Ascites (hidroperitônio é um sinônimo raro) é definido como uma quantidade anormal de fluido intraperitoneal.
Terminologia
Ascites (plural é a mesma palavra) tende a ser reservado para quantidades relativamente grandes de fluido peritoneal. A quantidade não foi definida formalmente, contudo nota-se que fisiologicamente há 50-75 mL de líquido na cavidade abdominal. Assim, quando apenas uma pequena quantidade de fluido está presente, que pode ser fisiológica, os radiologistas tendem a usar o termo “fluido peritoneal livre” ou apenas fluido livre em seu lugar. Ocasionalmente o termo “ascites vestigiais” pode ser empregado. Tem sido apontado que o termo fluido livre parece não incluir pequenas quantidades de fluido localizado, pois “livre” e “localizado” são antônimos 11,12,
Apresentação clínica
Patientes com grande volume de ascite podem apresentar distensão abdominal (que pode ser dolorosa), náuseas, vômitos, dispnéia e edema periférico 7,9.
Patologia
O líquido ascítico é tradicionalmente caracterizado como:
- transudado: fino, baixa contagem de proteínas e baixa gravidade específica
- exsudado: alta contagem de proteínas e alta gravidade específica
Mais recentemente, o conceito do gradiente sérico de albumina das ascite mostrou ser mais preciso na classificação das causas das ascite 5. Para efeitos de simplicidade, no entanto, mantemos a classificação anterior.
Etiologia
Causas das ascite transudantes:
- cirrose
- Hepatite alcoólica
- Insuficiência cardíaca (CCF)
- hipoproteinemia
- Trombose venosa portal
- diálise peritoneal (CAPD)
- malignidade (~10% de ascite refratária) 7,9
- mais comum: mama, ovariana, endometrial, gastrointestinal e pancreática 7
Causas de ascite exsudativa:
- carcinomatose peritoneal
- pancreatite
- abscess
- síndrome nefrótica
- peritonite, e.g. tuberculose
- curtume isquémico
- obstrução do intestino
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Características radiográficas
Radiografia de tripa
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Detecção de fluido intraperitoneal numa radiografia simples requer pelo menos 500 mL para estar presente.
A radiografia de flacidez intraperitoneal em uma radiografia simples requer pelo menos 500 mL para estar presente:
- difusivamente aumentada a densidade do abdómen
- definição pobre das sombras dos tecidos moles, tais como os músculos do psoas, fígado e baço
- deslocamento médio do intestino e vísceras sólidas (longe da faixa de gordura properitoneal)
- alavancamento dos flancos
- a separação crescente dos pequenos laços intestinais
- sinal de orelha de cão: representa fluido no recesso peritoneal pélvico 10
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Ultrasom
Pode detectar volumes menores, especialmente se estiverem adjacentes ao diafragma ou à margem anterior do fígado 3. Avaliação do tipo de fluido:
- ascite simples é anecóica
- exsudativa, ascite hemorrágica ou neoplásica contém resíduos flutuantes
- sepções sugerem uma causa inflamatória ou neoplásica e pode ser chamada de ascite localizada
CT
CT é mais sensível a pequenas quantidades de líquido no peritônio que se acumula preferencialmente nas regiões dependentes, como a bolsa de Morison e a pélvis. A densidade da TC do fluido intraperitoneal pode dar uma pista para a etiologia subjacente:
- A densidade da ascite trans transudativa deve ser aproximada à da água (-10 a +10 UH)
- Ascite exudativa (densidade >15 UH)
- A densidade do hemoperitôneo é ainda mais alta (~45 UH)
O curso, outras características intra ou extra-abdominais da TC podem dar mais evidências para a origem da ascite (e.g. características de insuficiência cardíaca, características de cirrose, cateter peritoneal in situ, etc).
Tratamento e prognóstico
O manejo médico inclui uma dieta modificada (restringindo o sódio) e o uso de medicações como diuréticos 7,9. Técnicas de intervenção para o manejo incluem paracentese em série (torneira ascítica), DICAS ou derivação peritoneovenosa 8,9.
As torneiras ascíticas são as mais comuns e pensadas como sendo o tratamento mais eficaz para as ascite sintomática 9. Pode ser realizado com uma variedade de técnicas, dependendo da instituição e da disponibilidade de recursos de imagem 8:
- cego: ou seja não-imagem guiada
- parcialmente guiada por imagem: um local apropriado é marcado na parede abdominal usando ultra-som mas a punção é cega
- imagem-guiada: geralmente usando ultra-som
Diagnóstico diferencial
Considerar outras causas de fluido intraperitoneal:
- fisiológicas: pequena quantidade de fluido pélvico pode ser normal em fêmeas jovens
- choleperitoneum: biloma/fuga de mordida, e.g. de colecistectomia
- cloperitôneo (ascite quilosa)
- hemoperitôneo
- uroperitôneo: urinoma/furo vazamento, por exemplo, de trauma na bexiga
- ascitepancreática