DISCUSSÃO
Edema pulmonar cardiogênico agudo é uma condição de risco de vida com alta mortalidade. Clinicamente, caracteriza-se pelo rápido aparecimento de dispnéia, taquipnéia, taquicardia e hipoxemia grave. A marca radiológica do edema pulmonar cardiogênico é a opacidade simétrica bilateral na área perihilar resultando na clássica aparência de “sombra borboleta” ou “asa de morcego”.
UPE é uma entidade clínica rara que apresenta desafios diagnósticos e é frequentemente mal diagnosticada no início para pneumonia, aspiração ou hemorragia alveolar.
UPE cardiogênica é uma entidade clínica rara que ocorre em cerca de 2% dos casos de insuficiência cardíaca congestiva. A UPE tem sido relatada após insuficiência cardíaca congestiva, insuficiência mitral e sobrecarga de líquidos por várias causas.
Um edema unilateral com patologia ipsilateral tem sido relatado com decúbito lateral prolongado, toracocentese rápida, após obstrução aguda das vias aéreas superiores, contusão pulmonar, pleurodese de talco, oclusão de veias pulmonares e shunt sistêmico congênito ou cirúrgico para pulmonar (ex, Blalock-Taussig shunt).
Um edema unilateral com anormalidade de perfusão no pulmão contralateral ocorre com embolia pulmonar unilateral, hipoplasia unilateral da artéria pulmonar, síndrome de Swyer-James e enfisema/bullae unilateral. Entretanto, a RM grave (RM orgânica ou funcional) é a principal causa de EPU.
A maioria dos casos de EPU associados à insuficiência cardíaca afeta o pulmão direito. Em um estudo de Attias et al., a UPE foi do lado direito em 89% dos casos e a UPE do lado esquerdo foi pouco freqüente, representando apenas 0,2% de todos os casos de edema pulmonar cardiogênico. A UPE do lado esquerdo como conseqüência da regurgitação mitral é rara. Tomcsanyi et al., relataram um caso de EPU do lado esquerdo devido a uma regurgitação mitral excêntrica, que complica um infarto agudo do miocárdio inferior.
A EPU é frequentemente mal diagnosticada inicialmente por outras causas de infiltrados alveolares e intersticiais unilaterais, especialmente pneumonia, resultando em atraso no início do tratamento ideal. Choi et al. demonstraram um atraso médio de 4-5 dias para iniciar o tratamento adequado da insuficiência cardíaca em pacientes com UPE cardiogênica. Além disso, pacientes com EPU têm maior risco de mortalidade, 6,9 vezes maior do que pacientes com edema pulmonar bilateral, e o atraso no tratamento adequado da EPU pode ser uma explicação para este aumento da mortalidade.
BNP é de grande ajuda na diferenciação entre edema agudo pulmonar de origem cardiogênica ou não cardiogênica. A possibilidade de insuficiência cardíaca é muito baixa quando os níveis de BNP são <100 pg/ml (valor preditivo negativo 90%), enquanto a possibilidade de insuficiência cardíaca é muito alta quando os níveis de BNP são >500 pg/ml (valor preditivo positivo 90%).
No nosso caso, foi diagnosticado ao paciente edema pulmonar esquerdo, apesar do infiltrado pulmonar unilateral com base na ausência de febre, RM orgânica, culturas negativas, alto nível de peptídeo B-natriurético e baixos níveis de PCT e PCR. O caso indexado teve desaparecimento muito rápido das opacidades esquerdas, após tratamento ótimo e agressivo da insuficiência cardíaca congestiva.
UPE é uma apresentação pouco comum de edema pulmonar cardiogênico. Opacidades assimétricas em um skiagrama torácico geralmente têm causa respiratória, mas a UPE deve ser mantida em mente, especialmente em pacientes com apresentação clínica compatível. O tratamento precoce e agressivo deve ser iniciado prontamente para evitar mau prognóstico.