Quando o Dr Dre quebrou as fileiras com a NWA e Ruthless records, ele estava cercado por uma nuvem de incerteza. Depois de criar o som do rap gangsta nos aclamados álbuns da NWA Straight Outta Compton e Efil4zaggin, Dre teve que provar que podia ficar de pé sozinho fora da sombra do Eazy-E. Seguindo os passos de Ice Cube, Dre se dirigiu para a saída e lançou sua própria gravadora, a Death Row Records, o que lhe deu controle criativo e possibilidades financeiras ilimitadas. Se existiam dúvidas em relação à capacidade de Dre de fazer música por conta própria, elas foram resolvidas de uma vez por todas quando ele deixou cair a sua obra magna, The Chronic, sobre as massas.
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Resposta do Hip-hop a Quincy Jones
Nomeado depois de um termo de gíria para canábis de topo de gama e com um tributo ao papel de enrolar Zig-Zag na sua capa, The Chronic causou uma mudança sísmica na indústria musical. Dre foi transformado de grande beatmaker num compositor por excelência, orquestrando a duração e amplitude do projecto e tornando-se a resposta do hip-hop a Quincy Jones.
Desenvolvendo uma estirpe de hip-hop divertida e com amostras, The Chronic introduziu ao mundo o som G-Funk e galvanizou o estilo hip-hop da Costa Oeste que dominaria completamente o género. Ao contrário dos seus contemporâneos na Costa Leste que samplearam discos de discoteca e jazz, a marca de hip-hop de Dre contou com as influências do coletivo parlamento-funkadélico de George Clinton – aka P-Funk.
Ataques implacáveis
Dre sinalizou que algo novo estava no horizonte do hip-hop com o primeiro single de The Chronic, ‘Nuthin’ But A “G” Thang’. Amostragem de ‘I Wanna Doething Freaky To You’ de Leon Haywood e a apresentação de uma superestrela na criação, Snoop Doggy Dogg (como era conhecido então), ‘Nuthin’ But A “G” Thang’ foi a introdução perfeita para Dre, o artista solo. Com um dos mais reconhecidos bares de abertura da história do hip-hop – “Um, dois, três e aos quatro/Snoop Doggy Dogg e Dr. Dre está à porta” – Dre afirmou o seu lugar na paisagem do hip-hop com um clássico de boa fé que chegou ao número 2. no Billboard Hot 100.
A faixa de diss diss dissonância ‘F__k Wit Dre Day (And Everybody’s Celebratin’)’ é um ataque implacável (trocadilho definitivamente intencional) ao Eazy-E, com golpes no Tim Dog e no 2 Live Crew’s Luther “Luke Skyywalker” Campbell para uma boa medida. Acompanhado novamente por Snoop Dogg, o vídeo para a pista apresentou um Eazy-E falso e derramou mais combustível sobre o fogo; como os antigos amigos tornaram-se inimigos amargos, ‘F__k Wit Dre Day’ subiu na tabela, atingindo o pico no No.8.
Mestria de produção
O terceiro e último single do Chronic, ‘Let Me Ride’, é um excelente exemplo da mestria de produção do Dre. Com seu hábil uso da interpretação ao vivo do refrão ‘Swing Down Sweet Chariot’ do Parlamento, apresentando os vocais de Glen Goins, Dre criou um cenário sonoro que mostrou seu sofisticado gênio técnico. Graças à sua fusão de samples soul dos anos 70 e produções funky, Dre ajudou a dar início à era do rap melódico: ‘Let Me Ride’ chegou ao No.34 nas paradas da Billboard e ganhou o prêmio Grammy de melhor performance de Rap Solo durante os Grammy Awards de 1994.
Enquanto os singles marcaram os momentos de destaque do álbum, The Chronic é notável por seus cortes profundos e duros. Rat-Tat-Tat-Tat-Tat é um hino clássico de rap gangster que encapsula a vibração do G-Funk da Costa Oeste; ‘Lil Ghetto Boy’ detalha a realidade penetrante da vida nas cidades do interior de Los Angeles; ‘The Day The Ni__az Took Over’ oferece um relato ao vivo dos tumultos em Los Angeles que eclodiram após o julgamento de Rodney King. Com sátiras hilariantes, encravamentos hardcore e comentários provocantes, The Chronic é mais do que um grande álbum, é uma experiência.
A chegada do Death Row
Lançado em 15 de Dezembro de 1992, The Chronic atingiu o seu pico no nº 3 no Billboard 200 e vendeu três milhões de cópias só nos EUA, acabando por ir em multi-platina. Devido ao seu sucesso, o Dr. Dre tornou-se um dos dez artistas americanos mais vendidos em 1993, com The Chronic passando oito meses no Top 10 da Billboard – um feito inédito para um álbum de hip-hop na época.
The Chronic não é apenas um disco histórico para Dre; ele serviu de aviso para o resto do país: O hip-hop da Costa Oeste não ia a lado nenhum. Death Row tornou-se uma das gravadoras mais vendidas no início dos anos 90 e, como seu primeiro lançamento, The Chronic transformou suas estrelas convidadas Snoop Dogg, The Dogg Pound (Daz Dillinger e Kurupt), Nate Dogg, Warren G e The Lady Of Rage em nomes consagrados, preparando o palco para os muitos lançamentos solo que se seguiram.
Quando o Dr. Dre lançou o álbum ele estava apenas observando o caos e a alegria do mundo ao seu redor, mas ele involuntariamente criou uma cápsula do tempo de Los Angeles no início dos anos 90. Desde a ascensão do rap gangsta ao mundo, até as profundas tensões raciais que borbulharam após os motins, e a ascensão de Dre como um dos produtores preeminentes do hip-hop, está tudo bem aí. Com O Crônico, Dre legou ao mundo uma obra-prima. Por seus esforços, tornou-se uma lenda.
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